Como criar uma cultura institucional?
Para responder estas questões, o WallJobs entrevistou a especialista em transformação de ambientes de trabalho, Vivian Alvo. O trabalho da profissional é focado em melhoria de resultados, gerenciamento de mudanças, diagnóstico organizacional e desenvolvimento de líderes. Em janeiro de 2017, recebeu o prêmio internacional LEAD, pelo projeto de treinamento para o Groupon, escolhido dentre dezenas de programas promovidos dentro de empresas com forte tradição e boas práticas de RH.
A trajetória de Vivian inclui multinacionais como Groupon, Oracle, SAP, Young & Rubicam e Whirlpool. Hoje, atua como consultora independente na empresa que leva seu nome: Vivian Alvo – Atelier de Desenvolvimento Organizacional & Coaching.
WJ: Qual o primeiro passo para a criação de uma cultura institucional? Há resistência?
Vivian Alvo: Quando os colaboradores sentem que o clima na empresa não vai bem, pode haver resistência às novas ideias e o ceticismo paira no ar. Neste caso, é fundamental que a liderança acredite no projeto da empresa e que transmita segurança ao colaborador, posicionando-se como modelo da nova cultura que está sendo implantada. Se os líderes não forem exemplo, o projeto está fadado ao fracasso. Por isso, o primeiro passo é engajar a alta liderança.
WJ: Como conquistar os colaboradores para que eles participem da mudança e a aceitem?
Vivian Alvo: Hoje em dia, convivemos com uma alta porcentagem de colaboradores com perfis diferentes, de gerações diferentes, especialmente das gerações Y e Z. Estamos falando de colaboradores que ficam muito motivados quando percebem que podem fazer a diferença. E, se eles buscam propósito, temos que transformá-los em protagonistas da transformação, ao mesmo tempo que adaptamos o discurso da empresa para a linguagem desse público. O projeto de mudança cultural precisa extrapolar os limites do RH e deve ser motivo de orgulho para toda a empresa. Precisamos conquistá-los, torná-los os verdadeiros agentes dessa mudança.
WJ: Como se dá este processo de engajamento?
Vivian Alvo:
- Participação forte dos colaboradores nas mudanças organizacionais: O maior propulsor da mudança é o orgulho por fazer parte de uma organização onde se pode ser protagonista da transformação.
- Independente do tamanho da empresa, é preciso lembrar que cada área tem sua própria personalidade e respeitar essas características.
- É necessário começar criando pequenas “ilhas” de transformação, respeitando a visão de cada uma das áreas, para, somente em seguida, costurar toda essa “colcha de retalhos” que dará origem à nova cultura organizacional – na qual as pessoas acreditam e da qual têm orgulho. É isso que gera a adesão coletiva!
- A liderança deve ser o modelo, agir de acordo com o discurso que apresenta.
- Acima de tudo isso, a verdadeira escuta ativa aos colaboradores é o que promove o real engajamento e, consequentemente, gera resultados. Segundo pesquisa internacional realizada pelo Instituto Gallup, os resultados financeiros são 21% superiores em equipes engajadas. Ou seja, de qualquer forma, colaboradores engajados geram melhores resultados para eles mesmos e para a empresa.
WJ: Qual o impacto de engajar o colaborador em ações?
Vivian: O colaborador precisa de uma razão, um propósito, para investir energia em uma empresa ou um projeto. Gosto muito do modelo do Great Place to Work que traz o “Giftwork” como grande fonte do engajamento. Na prática, quando recebemos um presente, temos a tendência de querer retribuir o gesto. E o Giftwork é isso! Quando o colaborador se sente valorizado, se inspira a dar o melhor de si para a empresa que o faz se sentir bem, criando um círculo virtuoso e gerando um ambiente de trabalho motivador.
Ele sente que a empresa é parceira e que ele é o protagonista!
Por outro lado, as pesquisas demonstram que existe um descompasso entre o que os gestores e os colaboradores acreditam. Para a maioria dos gestores, o salário é o grande diferencial, enquanto que, para os colaboradores, o clima, as oportunidades de desenvolvimento e reconhecimento são o que os faz querer permanecer na empresa. Pesquisas mostram que a motivação causada por um aumento salarial dura em média três meses, enquanto que a cultura gera o verdadeiro orgulho de pertencer e a vontade de “vestir a camisa”.
Colaboradores engajados produzem mais, se comprometem mais e mantém o desejo de ficar mais tempo nas empresas em que atuam.
WJ: Qual foi o impacto mais visível que você pode citar da cultura organizacional nas empresas que você atuou?
Vivian Alvo: Em cada uma das organizações onde atuei conseguimos, literalmente, trabalhar a “personalidade” da empresa, gerando uma grande mudança no clima organizacional, que, por sua vez, gerava impacto nos resultados da empresa. Houve casos surpreendentes nos quais os colaboradores até pagavam para ter uma camiseta com o logotipo da empresa. O orgulho era tão grande que valia a pena investir pra ter a marca “no peito”! Colaboradores se transformam nos verdadeiros advogados da marca. Profissionais engajados são a maior propaganda dos próprios produtos ou serviços e se tornam os principais recrutadores da empresa!
WJ: Como isso se desenvolveu?
Vivian: Por meio de diversas ações que colocavam os colaboradores como seus maiores agentes. As ações de voluntariado eram muito marcantes para eles, por exemplo. As pessoas encaravam acordar mais cedo para participar das ações, trabalhavam como voluntários nas ONGS aos finais de semana ou no horário de almoço, porque acreditavam que isso pode fazer a diferença na nossa sociedade. Mas sempre deve haver uma contrapartida. A empresa deve retribuir e mostrar que está junto e sempre pronta para fazer sua parte, geralmente em forma de tempo.
Além disso, colaboradores, ao serem aceitos como são e podendo trocar experiências em grupo, se identificam com o local de trabalho. Por isso, os grupos de diversidade, onde se incluem mulheres líderes e a comunidade LGBT, geram espaço para que todos se sintam amparados nas diferenças.
A trajetória de Vivian inclui multinacionais como Groupon, Oracle, SAP, Young & Rubicam e Whirlpool. Além de ampla experiência e formação em Recursos Humanos, possui certificações internacionais em Liderança Situacional (Ken Blanchard Co., Chicago), Feedback 360º (PDI, Ninth House, San Francisco) e Coaching (DDI e Blanchard). Em maio de 2017, foi palestrante do HR Summit LATAM, no Panamá. Hoje, conduz sua própria consultoria Vivian Alvo – Atelier de Desenvolvimento Organizacional & Coaching.