Diversidade no ambiente de trabalho tem se tornado um tema desafiador para empreendedores e profissionais de Recursos Humanos. Isso porque, questões sociais que sempre estiveram ali a espreita, como a luta feminina por equidade no ambiente corporativo e a presença de LGBTs e negros nas equipes – além dos seus desdobramentos de causa – tomaram força e ganharam dimensão, o que fez com que as corporações precisassem se posicionar e atuar diante do assunto.
Mas muito mais do que simplesmente o seu papel social como marca, o que de fato a questão da diversidade pode contribuir para o ambiente de trabalho? Quais são os principais benefícios de buscar colaboradores de diferentes grupos sociais? Como aplicar?
Bom, é isso que vamos discutir. Veja algumas informações importantes que podem ajudá-lo a se posicionar na defesa por mais espaço de diversidade, como implementá-las e as dicas da psicóloga do Zenklub, plataforma que conecta pessoas a especialistas de bem-estar emocional, Fernanda Jacovozzi, para contribuir com esse tema.
O que é diversidade?
Diversidade caracteriza-se pela presença igualitária de grupos étnicos, raciais, sociais, de identidade de gênero, de identidade sexual e acessibilidade. Portanto, diversidade trata-se da inclusão, igualdade e representatividade de todos os grupos presentes na sociedade. E com tantas características diferentes no nosso país, é praticamente impossível não levar esse tema também para questões profissionais.
A mulher no contexto corporativo
De acordo com estudo recentemente publicado pelo IBGE Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil, mulheres enfrentam desigualdades no mercado de trabalho em relação aos homens. Em números:
Tomando por base a população de 25 anos ou mais de idade com ensino superior completo, as mulheres somam 23,5%, e os homens, 20,7%. Quando se comparam os dados com homens e mulheres de cor preta ou parda, os percentuais são bastante inferiores: 7% entre os homens e 10,4% entre mulheres. Já é possível verificar nestes dado iniciais a disparidade racial.
Ao analisar mais profundamente a questão de rendimento médio, ou seja, o salário recebido comparando a questão de gênero, os números parecem não ser condizentes com o percentual entre homens e mulheres com ensino superior completo. A pesquisa aponta que as mulheres recebem, em média, 75% do valor que os homens ganham, significando um rendimento habitual médio mensal de R$ 1.764, enquanto os homens, R$ 2.306.
Segundo a própria analista da Gerência de Indicadores Sociais do IBGE, Betina Fresneda há nestes dados uma incoerência entre o rendimento dos homens e das mulheres “As mulheres deveriam estar ganhando mais, porque a principal variável que explica o salário é a educação. Você não só não tem um salário médio por hora maior, como na verdade essa proporção é menor.”
A pesquisa confirma ainda a desigualdade racial existente entre mulheres brancas e negras ou pardas. No tópico da educação, o estudo procurou ressaltar também que entre as mulheres, as desigualdades são marcantes. As mulheres brancas alcançam superior completo em proporção duas vezes maior que as pretas ou pardas. “Então, existe um efeito também da cor da pessoa na chance de concluir o ensino superior”, destacou a economista.
Estes são apenas os dados demonstrando a desigualdade de gênero e racial entre as mulheres. O que acontece quando se extrapola esta análise para os demais grupos sociais?
Necessidades especiais
Segundo o IBGE, o Brasil possui 45 milhões de pessoas com deficiência. O que representa quase 25% de sua população total.
Pergunte-se quantas pessoas com deficiência participam do quadro de colaboradores de sua empresa. Este número se aproxima de 1/4 dos colaboradores? Se este é o caso, estes são adequadamente incluídos no ambiente de trabalho? Ou se sempre há algum ajuste a ser feito para que possam transitar e trabalhar da mesma forma que todos?
LGBTQs
A comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e Queer (LGBTQ) brasileira, atualmente, representa quase 9% da população (18 milhões de pessoas). São essas pessoas que sofrem diariamente com a exclusão, com o preconceito, com a violação de seus direitos, dificuldade de acesso à educação e ao mercado de trabalho, onde as empresas brasileiras estão longe de promoverem a inclusão e respeito à população LGBTQ.
Segundo pesquisas realizadas pelo plantão plomo no Brasil, uma em cada cinco empresas se recusa a contratar homossexuais com medo de que a imagem da companhia fique associada àquele funcionário, fazendo com que essas empresas percam seus clientes. Enquanto isso, a mesma pesquisa mostra que 68% das pessoas já presenciaram algum tipo de homofobia no ambiente de trabalho.
Ainda, de acordo com o último levantamento da Compahia Elancers, 38% das empresas brasileiras não contratariam pessoas LGBTs para cargos de chefia e 7% não contratariam em hipótese alguma.
Negros no mercado de trabalho
Na última pesquisa/trimestre de 2016 do Pnad/IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em relação à taxa de desocupação no Brasil, cerca de 28,5% são pessoas que se consideram pretos e pardos. Mais que o triplo dos que se consideram brancos (9,5%). Cerca de 63,7% dos brasileiros desempregados são negros, de uma população de 113 milhões de negros no país, ainda de acordo com o IBGE. Já se questionou qual a porcentagem de colaboradores negros ocupam cargos na sua empresa? E cargos de liderança?
Por que valorizar a diversidade?
Segundo a especialista Fernanda Jacovozzi, a diversidade é uma questão de responsabilidade social, além de beneficiar no desenvolvimento do bem-estar emocional e produtivo dos colaboradores. “Empresas que consideram a diversidade no ambiente de trabalho apresentam resultados melhores e ainda tem a oportunidade de mostrar aos seus colaboradores a importância de se respeitar as diferenças e o quanto essa postura torna os relacionamentos ainda mais ricos uma vez que entramos em contato com visões diferentes de uma mesma questão. Assim, teremos colaboradores com uma melhor imagem da empresa e mais satisfeitos contribuindo para a melhoria do clima organizacional.”
Veja alguns benefícios que a cultura da diversidade pode trazer para o seu ambiente corporativo:
- Impulsiona a criatividade: quanto mais diverso o grupo for, maior a probabilidade de novas ideias surgirem na execução das tarefas;
- Engajamento: o ambiente de trabalho se torna mais cooperativo e motivador quando se tem diferentes personas na equipe, estimulando assim um ciclo positivo na realização das tarefas;
- Cultura de respeito: estimular um ambiente diverso provoca a boa convivência e tolerância entre as pessoas;
- Reduz atritos: a partir da cultura do respeito os problemas passam a refletir menos em desentendimentos profundos;
- Menos demissões: desentendimentos provocam desligamentos entre as equipes e reduzindo os atritos, naturalmente, a rotatividade será menor;
- Imagem da empresa: toda empresa tem o seu papel social e isso é espelho das suas ações, missão e valores corporativos. A inclusão da diversidade é uma postura de responsabilidade diante das questões sociais.
Desafio do RH e dos líderes
Qual a missão, valores e visão da sua empresa? Onde a diversidade se encaixa? Quais mudanças podem acontecer para que a empresa comunique melhor esse desafio?
Você, profissional de RH, não precisa se sentir perdido e sem saber como contribuir nesse cenário. Sabemos que em muitas empresas pode haver resistência por parte dos principais líderes em entender a importância de mudar um ambiente para multicultural, o que dificulta bastante o seu trabalho já que eles são os principais disseminadores da cultura organizacional. Nesses casos, vale o investimento na conscientização, como afirma Jacovozzi:
“Implementar a multiculturalidade em um ambiente corporativo é iniciar um caminho de conscientização e disseminação de informações junto aos líderes já que são eles os responsáveis por garantir a cultura da empresa e favorecer um clima em que prevaleça a abertura e o respeito às diferenças. Uma vez que os gestores percebem que aquele que é visto como justo e inclusivo contribui para a uma melhor entrega de resultados de sua equipe, essa abertura acaba acontecendo.”
Então, mãos a obra e faça a diversidade prevalecer no seu ambiente corporativo para que a sua visibilidade social não seja apenas uma mera ilustração institucional.